segunda-feira, 28 de julho de 2008

A espera cega que a esperança permite

Puxada para lá das minhas forças, sou obrigada a sentir a carência, aquilo de que ainda não sabia e precisava de saber para me saber a mim toda. Para a colocação dos pedaços soltos.
O rebentar do ponto de equilíbrio dissolve-me a identidade. Destrói-me a estabilidade. Perco a estrutura.
É tempo de me confrontar com a angústia. O quarto está vazio e não há janelas para a rua. O telefone está desligado. Sinto um peso intolerável. A tensão máxima de tudo o que sou face ao que me falta ser e ignoro.
Oiço o convite, o apelo a olhar de frente o ilusório de toda a posse. A tranquilidade possível de largar o que tenho. A necessidade urgente de aprender a não depender de fora, do que acontece de especial, de aprender a não ter medo de ficar sem nada, sem ninguém.
Permito que a vida me pegue ao colo, me ensine, purifique, transforme, liberte também de algo a que nem me sabia presa, corte as necessidades que pensara inexistentes.
Cheia de medo, permito que a vida me magoe aí onde a dor é sem tamanho. Sem que me endureça nem me defenda.
Arrisco o encontro com a verdade do que sou. E, de repente, há um caminho que se torna mais nítido. Começo a ver para lá das janelas fechadas. Por todo o lado vão aparecendo gotas de água cada vez mais limpas.
Procuro acolher o tempo, respeitar o mistério, aceitar a exaustão sem deixar nunca de acreditar que nada é o fim. Permitir esse caminho desconhecido que do tudo conduz ao nada, criar espaço de disponibilidade para que o sopro opere e eu possa conhecer um tudo cada vez maior.
Respondo então que sim, que ainda é cedo e não estou preparada e tenho medo de andar às escuras e de me enganar no caminho, mas que me assumo ignorante e pequena. Reconheço o peso de memórias de medos passados, mas acredito na paz.
Respondo que sim, estendida no chão, de braços caídos, reino perdido, sem almofadas em cima de alcatifa rota, sem qualquer cobertor e sem medir o alcance da resposta.
Vivendo apenas uma plenitude ainda não conhecida, nesta espera cega que a esperança permite.
Respondo que sim e avanço, às apalpadelas.