quinta-feira, 15 de novembro de 2007

se eu pudesse



Se eu pudesse queixar-me e soubesse deixar correr a minha loucura!
Se eu pudesse contar a toda a gente que agora é tempo de solidão!
Se eu pudesse descrever a minha guerra fechada e soubesse
imitar o som do meu silêncio dorido...
Se eu pudesse deixar fugir qualquer som: um ai, um gemido, onde soubesse afogar minha angústia no espaço!
Se eu pudesse sorver golfadas de ar e soubesse caminhar, caminhar até ao auge do cansaço! Se eu pudesse destruir o tempo incerto, os sonhos pisados, os pesadelos guardados, os cacos escondidos no meu sorriso desnorteado...
Se eu pudesse transpirar num respirar profundo o descontrolado que é a existência no mundo...
Se eu soubesse fugir, correr à toa e partir-me, destroçar-me, esconder-me e perder-me para voltar a encontrar-me reconstruída...
Se eu pudesse arrancar do peito esta ferida que doí e que calo, que consinto e que guardo, que preciso extrair assim com força e raiva de dentro de mim...
Se eu soubesse como curar tamanha ferida, eu corria, saltava, gritava, fugia, chorava, ria, gemia, lutava, andava ou parava..... e morria..... ou vivia!!!!!!

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